Todos saímos do cinema pensando:
Não, Vingadores: A Era de Ultron, não é um filme ruim. Também ninguém foi ao
cinema pensando que iria ver um filme cabeça no estilo da trilogia das cores.
Não, ninguém pensou nisso, mas... porque esse sentimento coletivo de que faltou
algo?
Podemos estabelecer que o filme
arrisca um breve debate sobre a inconsistência do planeta terra, afinal, como
já vimos nos próprios Vingadores e nos filmes do Thor, o nosso lar é um tanto
fácil de ser invadido e dominado. Tony Stark sugere fazer um escudo em volta da
terra. Seria bom? Sim! Seria ótimo! Todo mundo que quisesse invadir teria um
pouco mais de dificuldade, os “defensores” da terra (ao melhor estilo Doctor
Who) seriam avisados com antecedência, etc, mas como Bruce Banner disse, toda
ação gera uma reação. Isso deixaria a terra mais fria, sombria, com pouca luz
do sol, o que não impediria de ter uma rebelião aqui dentro mesmo?
Como eu havia dito, eles só
passam de leve por cima desta situação, como também somente riscam a superfície
de outro debate relevante: Homem versus máquina. O que ficou evidente no filme
é que a máquina é malvada, enquanto o ciborgue pode ser a salvação da
humanidade em uma verdadeira psicologia maniqueísta que somente os
norte-americanos conseguem enxergar. Claro que o debate não vai para a frente,
afinal, este é um filme de ação.
Me incomoda muito o fato de tanto
as pessoas que fazem parte de toda a equipe que compõe o filme e também os fãs
da franquia não levarem em consideração que isto é uma obra de fantasia e não
de ação. Ação é Jason Statham correndo contra o tempo com uma bomba no coração.
Distopia futurística, não. Nas HQ’s existe o debate, existe a fantasia, existe
a aventura da descoberta, coisas que aguçam a mente. Vingadores é pura e
simplesmente um bom filme de ação, já de fantasia, não. Você desliga o cérebro
para assistir a filmes de ação, o que vale é a diversão e por isso, fico
preocupada pelo fato da Disney tratar os heróis da Marvel como heróis de ação e
somente isso. Seria bom ir ao cinema e ver estratagemas bem estruturados,
enigmas carregados, franquias que te fazem pensar de verdade o que vai
acontecer agora, e não somente mais de 2 horas de força física e efeitos
especiais na tela. Fica a dica para a Disney.
Além disso o filme tem algumas
inconsistências difíceis de engolir. Ultron, que deveria ser uma criação de
Hank Pym e sua megalomania egocêntrica, é construído por Tony Stark e Bruce
Banner. Ok, entendemos a liberdade poética, mas é muito falho o ato de não explicarem
como ele surgiu de verdade. Após 3 dias de muitas falhas, Stark e Banner
desistem por alguns momentos e vão se divertir numa festa e do nada, justamente
quando eles estão fora, voilá! O computador avisa que algo, que também não é
explicado, deu certo e mais do nada ainda surge Ultron, todo mal construído
(mesmo ele tendo acesso a vários modelos de robôs pacificadores) – que inclusive
deveria ser o Ultron verdadeiro de acordo com as HQ’s – aí, ele mesmo vasculha
a internet e conclui que os Vingadores são os responsáveis por toda destruição do mundo e resolve “extingui-los”.
Até aí tudo bem, mas no meio do filme Ultron decide que só matar os Vingadores
não é o suficiente, o que ele quer agora é destruir a humanidade (mas ele não havia julgado os próprios Vingadores como destruidores da humanidade? Fiquei confusa). Clap, clap,
clap. Parabéns roteiristas indecisos. Um plano pífio e clichê que eu me senti
lendo “Eu, Robô” ou assistindo “O Exterminador do Futuro” e tantos, tantos
outros exemplos que eu poderia falar, já que esse tipo de roteiro, da máquina
querendo acabar com o seu criador, já foi tantas vezes explorado que a
discussão já está, de certa forma, esgotada.
Outras falhas sérias que deveria
deixar qualquer fã da Marvel de cabelos arrepiados é o Doutor Bruce Banner. Nos
HQ’s, Bruce é atormentado, frustrado consigo mesmo, assombrado. A consequência dele
virar o Hulk vem justamente desta mente angustiada. Porém, isso não faz com que
ele seja o bichinho de estimação de Tony Stark. Bastaram 3 frases para que
Stark convencesse Banner a entrar no projeto com ele, emprestando toda sua
sabedoria bio-orgânica, duas vezes! No meu conceito, isso não está correto.
O
fato dos irmãos Maximoff mudarem de ideia também não foi a coisa mais genial de
se fazer. Os gêmeos não tiveram a preocupação com o personagem que eles
mereciam. Não foram aprofundados em nenhum momento da trama e a historinha de
como os seus pais morreram não emocionou ninguém. Eles querem acabar com Tony
Stark (mesmo ele não vendendo mais armas) e se juntam a Ultron para acabar com
todos os Vingadores? Ah tá, pensei que o propósito era só o Tony, desculpa aí. E
então, por causa desse erro, eles acabam proporcionando a cena mais
desnecessária de todo o filme, quando por um capricho dela mesma, Wanda mexe
com a cabeça de Banner e o Hulk acaba destruindo toda uma cidade na África,
gerando assim uma cena de quase 20 minutos que poderia muito bem ter sido
cortada. Mas a melhor parte não é essa. A melhor parte é quando Wanda lê a
mente de Ultron e percebe que o que ele quer é acabar com o mundo e os dois
viram de lado. Mesmo com Ultron falando isso em vários discursos antes dessa
cena, a Feiticeira Escarlate demorou para entender o que ele realmente queria,
será que ela não estava escutando antes?
Não vou falar aqui do fato do
Mercúrio, um mutante incrivelmente interessante. ser extremamente negligenciado
e ainda morrer no final do filme, nem vou falar dos poderes totalmente confusos
da Feiticeira Escarlate, nem da Viúva Negra que parece estar apaixonada por um
Vingador diferente a cada filme, muito menos da solução Deus Ex Machina com a
criação do Visão no final do filme (afinal, sem ele, acredita-se que Ultron
iria se espalhar mais que as pragas do Egito e a Febre do rato juntas e
provavelmente não seria derrotado), nem falarei também da derrocada final de
Ultron, que poderia ser mais bem aproveitado em outras ocasiões e do fato dele
ter “medo” do Jarvis (oi?). Todos entendemos que são personagens demais para se
colocar em cena e aprofundar ao mesmo tempo, mas Peter Jackson já fez isso com
maestria (personagens com profundidade que as pessoas realmente se importavam
com eles) em 3 filmes do “Senhor dos Anéis”, então, dá sim para fazer, é só
querer.
O filme não é ruim. Não, Os
Vingadores é um ótimo filme de ação, de deixar nossas cabeças doendo de tanta
força física e coisas acontecendo e explodindo ao mesmo tempo na tela, na
melhor “Michael Baylização” que os produtores poderiam nos dar. Eu me diverti
muito! Entrei na sala, desliguei o cérebro e tive 3 horas de diversão. Porém, a
Disney deveria olhar com mais carinho para essas franquias que as pessoas tanto
amam e que fazem tanto dinheiro. A ideia não é desligar o cérebro para assistir aos filmes, muito pelo contrário! A ideia é aguçar a mente, criar expectativas e anseios reais e não a espera da próxima cena de luta. Os fãs deveriam cobrar mais dessas produções. Não
estou aqui falando de fidelização aos quadrinhos, mas que pelo menos nos dê
algo a que nos agarrar, algo para pensarmos, algo para NOS fidelizar, e não um
filme que provavelmente será esquecido e engolido pelos próximos. Disney, tenha
mais respeito com a Marvel e com seus fãs, deixe os filmes de 90% de somente ação
para os outros e volte para a fantasia, que é o que você sabe fazer de melhor.
No mais, não existe absolutamente
nenhuma cena que contenha 3D real, é inexistente, e a cena pós-créditos, que só
tem uma e é na verdade, no começo dos créditos, é Thanos colocando a Manopla do
Infinito (como foi que ele chegou até ela mesmo? Isso será realmente
explicado?) e nada de Homem-aranha (sim, aquele vídeo é fake). Estamos todos ansiosos por algo que realmente possa colocar nossas mentes para trabalhar como acredito que é o que vai acontecer em Guerra Civil. Será que dessa vez a Marvel/Disney conseguem? Esperemos.
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