sexta-feira, 24 de abril de 2015

Os Vingadores: Era de Ultron e o desligamento coletivo de cérebros (com spoilers!!!)


Todos saímos do cinema pensando: Não, Vingadores: A Era de Ultron, não é um filme ruim. Também ninguém foi ao cinema pensando que iria ver um filme cabeça no estilo da trilogia das cores. Não, ninguém pensou nisso, mas... porque esse sentimento coletivo de que faltou algo?


Podemos estabelecer que o filme arrisca um breve debate sobre a inconsistência do planeta terra, afinal, como já vimos nos próprios Vingadores e nos filmes do Thor, o nosso lar é um tanto fácil de ser invadido e dominado. Tony Stark sugere fazer um escudo em volta da terra. Seria bom? Sim! Seria ótimo! Todo mundo que quisesse invadir teria um pouco mais de dificuldade, os “defensores” da terra (ao melhor estilo Doctor Who) seriam avisados com antecedência, etc, mas como Bruce Banner disse, toda ação gera uma reação. Isso deixaria a terra mais fria, sombria, com pouca luz do sol, o que não impediria de ter uma rebelião aqui dentro mesmo?
Como eu havia dito, eles só passam de leve por cima desta situação, como também somente riscam a superfície de outro debate relevante: Homem versus máquina. O que ficou evidente no filme é que a máquina é malvada, enquanto o ciborgue pode ser a salvação da humanidade em uma verdadeira psicologia maniqueísta que somente os norte-americanos conseguem enxergar. Claro que o debate não vai para a frente, afinal, este é um filme de ação.


Me incomoda muito o fato de tanto as pessoas que fazem parte de toda a equipe que compõe o filme e também os fãs da franquia não levarem em consideração que isto é uma obra de fantasia e não de ação. Ação é Jason Statham correndo contra o tempo com uma bomba no coração. Distopia futurística, não. Nas HQ’s existe o debate, existe a fantasia, existe a aventura da descoberta, coisas que aguçam a mente. Vingadores é pura e simplesmente um bom filme de ação, já de fantasia, não. Você desliga o cérebro para assistir a filmes de ação, o que vale é a diversão e por isso, fico preocupada pelo fato da Disney tratar os heróis da Marvel como heróis de ação e somente isso. Seria bom ir ao cinema e ver estratagemas bem estruturados, enigmas carregados, franquias que te fazem pensar de verdade o que vai acontecer agora, e não somente mais de 2 horas de força física e efeitos especiais na tela. Fica a dica para a Disney.


Além disso o filme tem algumas inconsistências difíceis de engolir. Ultron, que deveria ser uma criação de Hank Pym e sua megalomania egocêntrica, é construído por Tony Stark e Bruce Banner. Ok, entendemos a liberdade poética, mas é muito falho o ato de não explicarem como ele surgiu de verdade. Após 3 dias de muitas falhas, Stark e Banner desistem por alguns momentos e vão se divertir numa festa e do nada, justamente quando eles estão fora, voilá! O computador avisa que algo, que também não é explicado, deu certo e mais do nada ainda surge Ultron, todo mal construído (mesmo ele tendo acesso a vários modelos de robôs pacificadores) – que inclusive deveria ser o Ultron verdadeiro de acordo com as HQ’s – aí, ele mesmo vasculha a internet e conclui que os Vingadores são os responsáveis por toda destruição do mundo e resolve “extingui-los”. Até aí tudo bem, mas no meio do filme Ultron decide que só matar os Vingadores não é o suficiente, o que ele quer agora é destruir a humanidade (mas ele não havia julgado os próprios Vingadores como destruidores da humanidade? Fiquei confusa). Clap, clap, clap. Parabéns roteiristas indecisos. Um plano pífio e clichê que eu me senti lendo “Eu, Robô” ou assistindo “O Exterminador do Futuro” e tantos, tantos outros exemplos que eu poderia falar, já que esse tipo de roteiro, da máquina querendo acabar com o seu criador, já foi tantas vezes explorado que a discussão já está, de certa forma, esgotada.


Outras falhas sérias que deveria deixar qualquer fã da Marvel de cabelos arrepiados é o Doutor Bruce Banner. Nos HQ’s, Bruce é atormentado, frustrado consigo mesmo, assombrado. A consequência dele virar o Hulk vem justamente desta mente angustiada. Porém, isso não faz com que ele seja o bichinho de estimação de Tony Stark. Bastaram 3 frases para que Stark convencesse Banner a entrar no projeto com ele, emprestando toda sua sabedoria bio-orgânica, duas vezes! No meu conceito, isso não está correto. 


O fato dos irmãos Maximoff mudarem de ideia também não foi a coisa mais genial de se fazer. Os gêmeos não tiveram a preocupação com o personagem que eles mereciam. Não foram aprofundados em nenhum momento da trama e a historinha de como os seus pais morreram não emocionou ninguém. Eles querem acabar com Tony Stark (mesmo ele não vendendo mais armas) e se juntam a Ultron para acabar com todos os Vingadores? Ah tá, pensei que o propósito era só o Tony, desculpa aí. E então, por causa desse erro, eles acabam proporcionando a cena mais desnecessária de todo o filme, quando por um capricho dela mesma, Wanda mexe com a cabeça de Banner e o Hulk acaba destruindo toda uma cidade na África, gerando assim uma cena de quase 20 minutos que poderia muito bem ter sido cortada. Mas a melhor parte não é essa. A melhor parte é quando Wanda lê a mente de Ultron e percebe que o que ele quer é acabar com o mundo e os dois viram de lado. Mesmo com Ultron falando isso em vários discursos antes dessa cena, a Feiticeira Escarlate demorou para entender o que ele realmente queria, será que ela não estava escutando antes?


Não vou falar aqui do fato do Mercúrio, um mutante incrivelmente interessante. ser extremamente negligenciado e ainda morrer no final do filme, nem vou falar dos poderes totalmente confusos da Feiticeira Escarlate, nem da Viúva Negra que parece estar apaixonada por um Vingador diferente a cada filme, muito menos da solução Deus Ex Machina com a criação do Visão no final do filme (afinal, sem ele, acredita-se que Ultron iria se espalhar mais que as pragas do Egito e a Febre do rato juntas e provavelmente não seria derrotado), nem falarei também da derrocada final de Ultron, que poderia ser mais bem aproveitado em outras ocasiões e do fato dele ter “medo” do Jarvis (oi?). Todos entendemos que são personagens demais para se colocar em cena e aprofundar ao mesmo tempo, mas Peter Jackson já fez isso com maestria (personagens com profundidade que as pessoas realmente se importavam com eles) em 3 filmes do “Senhor dos Anéis”, então, dá sim para fazer, é só querer.


O filme não é ruim. Não, Os Vingadores é um ótimo filme de ação, de deixar nossas cabeças doendo de tanta força física e coisas acontecendo e explodindo ao mesmo tempo na tela, na melhor “Michael Baylização” que os produtores poderiam nos dar. Eu me diverti muito! Entrei na sala, desliguei o cérebro e tive 3 horas de diversão. Porém, a Disney deveria olhar com mais carinho para essas franquias que as pessoas tanto amam e que fazem tanto dinheiro. A ideia não é desligar o cérebro para assistir aos filmes, muito pelo contrário! A ideia é aguçar a mente, criar expectativas e anseios reais e não a espera da próxima cena de luta. Os fãs deveriam cobrar mais dessas produções. Não estou aqui falando de fidelização aos quadrinhos, mas que pelo menos nos dê algo a que nos agarrar, algo para pensarmos, algo para NOS fidelizar, e não um filme que provavelmente será esquecido e engolido pelos próximos. Disney, tenha mais respeito com a Marvel e com seus fãs, deixe os filmes de 90% de somente ação para os outros e volte para a fantasia, que é o que você sabe fazer de melhor.




No mais, não existe absolutamente nenhuma cena que contenha 3D real, é inexistente, e a cena pós-créditos, que só tem uma e é na verdade, no começo dos créditos, é Thanos colocando a Manopla do Infinito (como foi que ele chegou até ela mesmo? Isso será realmente explicado?) e nada de Homem-aranha (sim, aquele vídeo é fake). Estamos todos ansiosos por algo que realmente possa colocar nossas mentes para trabalhar como acredito que é o que vai acontecer em Guerra Civil. Será que dessa vez a Marvel/Disney conseguem? Esperemos.

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