Lembro
que lá em 2005, um extinto portal sobre séries, falava com carinho de uma série
nova e divertida que havia estreado. Procurei saber e, como nunca consigo
abandonar série, sempre escolho com muito cuidado quais começarei a assistir.
Devido às grandes críticas positivas, comecei assim a minha jornada com Grey’s
Anatomy. Jornada sim, porque, assim como em Lost, tratei logo de me apaixonar e
ficar amiga desses personagens que tanto povoaram, e ainda povoam, nossos
corações.
Digo
de cara que nunca gostei da Meredith, mas me vi muitas vezes nela, por isso,
acabei simpatizando e me afeiçoando a ela durante os anos. Quem eu sempre amei
de paixão, desde o primeiro episódio, foi ele, muito bem apelidado de “Doctor
Mcdreamy”, Derek Sheppard.
Gostava
muito de outros personagens também, como a maravilhosa Christina Yang e a
impetuosa Bailey, porém, Derek sempre povoou os meus melhores sonhos. Ele, por
si, era um sonho. Sempre pronto para ajudar as pessoas, amigo, companheiro e
apaixonado não só pelo que ele fazia, mas também pela mulher ao seu lado.
Ao
longo desses anos, aprendi a amar esses personagens, como se fossem meus amigos
de verdade (talvez pela falta de muitos deles na vida real), e tive uma
vivência quase carnal, de alma aberta com esse relacionamento. Lembro que
dividi casa com uma amiga e praticamente a obriguei a assistir todos os
episódios, e mesmo alguns repetidos, chorávamos juntas em todos eles.
Me
simpatizei com Izzie querendo abandonar de vez a imagem dela como modelo,
tirando a roupa na frente de todo o hospital para obter respeito. Fiquei triste
com Derek por ele não ter mencionado sua ex-esposa Addison, enchi os olhos
d’água ao ver Christina Yang cantando “Like a Virgin”, me angustiei com
Meredith por ela estar com uma bomba nas mãos ou quase morrendo afogada, chorei
horrores com a morte de Denny, fiquei com pena da Christina por ela ter sido
abandonada no altar por Burke, me descabelei que nem uma condenada (junto com a
minha amiga) com a morte de George e com o câncer de Izzie, meu coração quase
sai pela boca com Derek sendo baleado e Callie sofrendo um acidente de carro, odiei
o fato da Yang ter saído da série (ainda bem que não mataram ela), xinguei
Shonda Rhimes até a morte por causa do acidente de avião, mas me emocionei com
as mortes de Lexie e Mark e a incapacidade de Mcdreamy de operar por causa da
lesão em sua mão.
Também
tiveram momentos felizes, quando Derek desenhou a planta da casa deles com
velas no chão, o episódio musical na 7ª temporada, quando Teddy sente a chuva
em seu rosto pela primeira vez em muito tempo, quando Mer/Der escrevem seus
votos de casamento em um post it, quando o casal finalmente recebe Zola em
casa, em definitivo, o casamento coletivo entre Calzona e Mer/Der, a declaração
de amor de Lexie para Mark, quando Meredith dizia para a Christina que ela era
a “sua pessoa” (You are My Person).
Porém,
absolutamente nada, nem ninguém me preparou para este último episódio. Ano
passado, tanto Patrick Dempsey, quanto Ellen Pompeo assinaram contrato por mais
2 anos de Grey’s. Isso deu uma aliviada em nossos corações, afinal, Yang
acabara de sair e perder mais algum personagem principal não era uma opção. No
começo dessa temporada, Dempsey disse que se afastaria da série para correr na
Stock Car (ou algo do tipo, estou muito abalada emocionalmente para googlar),
até aí tudo bem, ele se afastaria, mas voltaria. A solução para isso foi enviar
Mcdreamy para Washington desenvolver pesquisas para a casa branca, ele estava
longe, mas sempre aparecia, ainda estava na série, ainda estava presente.
Quando ele voltou da capital dizendo que iria voltar para ficar em Seattle de
vez, porque seu lugar era junto à família, aposto que todos os fãs de Grey’s
explodiram de emoção e felicidade. Ele sai de casa, prometendo estar em casa
antes mesmo que Meredith sentisse sua ausência e no meio do caminho, morre.
O
marketing do episódio anterior não ajudou muito com Mer angustiada pelo fato
dele não responder o celular e com a pergunta “Where Is Derek?”, mas ninguém
sabia, infelizmente, o que estava por vir.
Shonda
pode ser a melhor roteirista do mundo em certos momentos, mas ela também sabe
ser cruel no melhor estilo George R. R. Martin, e dessa vez ela passou dos
limites da crueldade.
Derek
presencia um acidente envolvendo dois carros, salva as quatro pessoas feridas e
por um descuido, digamos, um pouco idiota (afinal, durante horas não passou
nenhum carro ali e justamente na hora que ele pára o carro atravessado no meio
da pista para pegar o celular, um caminhão passa, faça-me o favor né
Shonda...), acaba ele mesmo sofrendo um acidente. Dali em diante é só ladeira
abaixo.
Se
Derek não tivesse sofrido uma lesão no cérebro, ele poderia falar, mas não
pode. Os erros médicos vão acontecendo um atrás do outro, o neurocirurgião
passa 1 hora almoçando, quando na verdade, deveria estar cumprindo seu dever de
médico e o pior de tudo isso, é ouvir os pensamentos de Derek durante todo o
trajeto e não poder fazer nada. Ouvi-lo pensar “It’s Too Late – É Tarde Demais,
é de partir o coração.
Foi
o que Shonda fez, partiu nosso coração, matou nosso amigo, meu amigo. Um dos
meus melhores amigos. E nos fez assistir. A crueldade dela não acaba por aí: colocar Meredith imaginando que tudo estaria bem quando ela chegasse ao
hospital não foi legal. Não foi nada legal. Fazê-la desligar os aparelhos não
foi legal, assistir a todos os flashbacks de Derek na série não foi nada
saudável emocionalmente. Ter que engolir Mer contando a todos que Derek está
morto e ver seu enterro no próximo episódio não vai ser nada fácil, nem legal.
Shonda
Rhimes já nos fez sorrir, dar gargalhadas, chorar, nos emocionar, já nos pegou
de surpresa inúmeras vezes. Matar meu amigo Derek dessa maneira foi de longe,
uma péssima decisão. Foi um erro, uma injustiça, foi um desrespeito para com o
meu amigo. Se o ator quer sair da série, as vezes a melhor maneira não é a
morte. Com Yang deu tão certo, poderia dar com Derek também. Isso respeitaria
não só os fãs da série, como também a própria trajetória do personagem. A morte
só é bem aplicada quando ela também é bem merecida, respeitosa e bem recebida,
por mais que seja dolorosa. Colocá-lo para salvar 4 pessoas antes de sua
derrocada não nos convenceu, como quando a morte de George por saltar na frente
de um ônibus para salvar uma garota nos convenceu de certa maneira.
O
destino de Grey’s Anatomy agora é incerto. Se houver próxima temporada, será
toda voltada para Meredith e sua dor angustiante. Como disse no começo, tenho
TOC e não consigo abandonar série, mas agora Grey’s morreu de vez, sei que não
só para mim, mas também para milhares de fãs no mundo inteiro. Que a série
fique para sempre nas lembranças de nossas mentes e corações, mas que acabe
logo, sem sofrimento, e que tenha uma morte mais justa que a do nosso amigo, do
meu amigo, Derek “Mcdreamy” Sheppard.