sábado, 25 de abril de 2015

Grey’s Anatomy e o dia em que seremos todos felizes (spoilers do 11x21)


Lembro que lá em 2005, um extinto portal sobre séries, falava com carinho de uma série nova e divertida que havia estreado. Procurei saber e, como nunca consigo abandonar série, sempre escolho com muito cuidado quais começarei a assistir. Devido às grandes críticas positivas, comecei assim a minha jornada com Grey’s Anatomy. Jornada sim, porque, assim como em Lost, tratei logo de me apaixonar e ficar amiga desses personagens que tanto povoaram, e ainda povoam, nossos corações.
Digo de cara que nunca gostei da Meredith, mas me vi muitas vezes nela, por isso, acabei simpatizando e me afeiçoando a ela durante os anos. Quem eu sempre amei de paixão, desde o primeiro episódio, foi ele, muito bem apelidado de “Doctor Mcdreamy”, Derek Sheppard.


Gostava muito de outros personagens também, como a maravilhosa Christina Yang e a impetuosa Bailey, porém, Derek sempre povoou os meus melhores sonhos. Ele, por si, era um sonho. Sempre pronto para ajudar as pessoas, amigo, companheiro e apaixonado não só pelo que ele fazia, mas também pela mulher ao seu lado.
Ao longo desses anos, aprendi a amar esses personagens, como se fossem meus amigos de verdade (talvez pela falta de muitos deles na vida real), e tive uma vivência quase carnal, de alma aberta com esse relacionamento. Lembro que dividi casa com uma amiga e praticamente a obriguei a assistir todos os episódios, e mesmo alguns repetidos, chorávamos juntas em todos eles.


Me simpatizei com Izzie querendo abandonar de vez a imagem dela como modelo, tirando a roupa na frente de todo o hospital para obter respeito. Fiquei triste com Derek por ele não ter mencionado sua ex-esposa Addison, enchi os olhos d’água ao ver Christina Yang cantando “Like a Virgin”, me angustiei com Meredith por ela estar com uma bomba nas mãos ou quase morrendo afogada, chorei horrores com a morte de Denny, fiquei com pena da Christina por ela ter sido abandonada no altar por Burke, me descabelei que nem uma condenada (junto com a minha amiga) com a morte de George e com o câncer de Izzie, meu coração quase sai pela boca com Derek sendo baleado e Callie sofrendo um acidente de carro, odiei o fato da Yang ter saído da série (ainda bem que não mataram ela), xinguei Shonda Rhimes até a morte por causa do acidente de avião, mas me emocionei com as mortes de Lexie e Mark e a incapacidade de Mcdreamy de operar por causa da lesão em sua mão.


Também tiveram momentos felizes, quando Derek desenhou a planta da casa deles com velas no chão, o episódio musical na 7ª temporada, quando Teddy sente a chuva em seu rosto pela primeira vez em muito tempo, quando Mer/Der escrevem seus votos de casamento em um post it, quando o casal finalmente recebe Zola em casa, em definitivo, o casamento coletivo entre Calzona e Mer/Der, a declaração de amor de Lexie para Mark, quando Meredith dizia para a Christina que ela era a “sua pessoa” (You are My Person).


Porém, absolutamente nada, nem ninguém me preparou para este último episódio. Ano passado, tanto Patrick Dempsey, quanto Ellen Pompeo assinaram contrato por mais 2 anos de Grey’s. Isso deu uma aliviada em nossos corações, afinal, Yang acabara de sair e perder mais algum personagem principal não era uma opção. No começo dessa temporada, Dempsey disse que se afastaria da série para correr na Stock Car (ou algo do tipo, estou muito abalada emocionalmente para googlar), até aí tudo bem, ele se afastaria, mas voltaria. A solução para isso foi enviar Mcdreamy para Washington desenvolver pesquisas para a casa branca, ele estava longe, mas sempre aparecia, ainda estava na série, ainda estava presente. Quando ele voltou da capital dizendo que iria voltar para ficar em Seattle de vez, porque seu lugar era junto à família, aposto que todos os fãs de Grey’s explodiram de emoção e felicidade. Ele sai de casa, prometendo estar em casa antes mesmo que Meredith sentisse sua ausência e no meio do caminho, morre.


O marketing do episódio anterior não ajudou muito com Mer angustiada pelo fato dele não responder o celular e com a pergunta “Where Is Derek?”, mas ninguém sabia, infelizmente, o que estava por vir.
Shonda pode ser a melhor roteirista do mundo em certos momentos, mas ela também sabe ser cruel no melhor estilo George R. R. Martin, e dessa vez ela passou dos limites da crueldade.


Derek presencia um acidente envolvendo dois carros, salva as quatro pessoas feridas e por um descuido, digamos, um pouco idiota (afinal, durante horas não passou nenhum carro ali e justamente na hora que ele pára o carro atravessado no meio da pista para pegar o celular, um caminhão passa, faça-me o favor né Shonda...), acaba ele mesmo sofrendo um acidente. Dali em diante é só ladeira abaixo.
Se Derek não tivesse sofrido uma lesão no cérebro, ele poderia falar, mas não pode. Os erros médicos vão acontecendo um atrás do outro, o neurocirurgião passa 1 hora almoçando, quando na verdade, deveria estar cumprindo seu dever de médico e o pior de tudo isso, é ouvir os pensamentos de Derek durante todo o trajeto e não poder fazer nada. Ouvi-lo pensar “It’s Too Late – É Tarde Demais, é de partir o coração.


Foi o que Shonda fez, partiu nosso coração, matou nosso amigo, meu amigo. Um dos meus melhores amigos. E nos fez assistir. A crueldade dela não acaba por aí: colocar Meredith imaginando que tudo estaria bem quando ela chegasse ao hospital não foi legal. Não foi nada legal. Fazê-la desligar os aparelhos não foi legal, assistir a todos os flashbacks de Derek na série não foi nada saudável emocionalmente. Ter que engolir Mer contando a todos que Derek está morto e ver seu enterro no próximo episódio não vai ser nada fácil, nem legal.


Shonda Rhimes já nos fez sorrir, dar gargalhadas, chorar, nos emocionar, já nos pegou de surpresa inúmeras vezes. Matar meu amigo Derek dessa maneira foi de longe, uma péssima decisão. Foi um erro, uma injustiça, foi um desrespeito para com o meu amigo. Se o ator quer sair da série, as vezes a melhor maneira não é a morte. Com Yang deu tão certo, poderia dar com Derek também. Isso respeitaria não só os fãs da série, como também a própria trajetória do personagem. A morte só é bem aplicada quando ela também é bem merecida, respeitosa e bem recebida, por mais que seja dolorosa. Colocá-lo para salvar 4 pessoas antes de sua derrocada não nos convenceu, como quando a morte de George por saltar na frente de um ônibus para salvar uma garota nos convenceu de certa maneira.



O destino de Grey’s Anatomy agora é incerto. Se houver próxima temporada, será toda voltada para Meredith e sua dor angustiante. Como disse no começo, tenho TOC e não consigo abandonar série, mas agora Grey’s morreu de vez, sei que não só para mim, mas também para milhares de fãs no mundo inteiro. Que a série fique para sempre nas lembranças de nossas mentes e corações, mas que acabe logo, sem sofrimento, e que tenha uma morte mais justa que a do nosso amigo, do meu amigo, Derek “Mcdreamy” Sheppard.


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Os Vingadores: Era de Ultron e o desligamento coletivo de cérebros (com spoilers!!!)


Todos saímos do cinema pensando: Não, Vingadores: A Era de Ultron, não é um filme ruim. Também ninguém foi ao cinema pensando que iria ver um filme cabeça no estilo da trilogia das cores. Não, ninguém pensou nisso, mas... porque esse sentimento coletivo de que faltou algo?


Podemos estabelecer que o filme arrisca um breve debate sobre a inconsistência do planeta terra, afinal, como já vimos nos próprios Vingadores e nos filmes do Thor, o nosso lar é um tanto fácil de ser invadido e dominado. Tony Stark sugere fazer um escudo em volta da terra. Seria bom? Sim! Seria ótimo! Todo mundo que quisesse invadir teria um pouco mais de dificuldade, os “defensores” da terra (ao melhor estilo Doctor Who) seriam avisados com antecedência, etc, mas como Bruce Banner disse, toda ação gera uma reação. Isso deixaria a terra mais fria, sombria, com pouca luz do sol, o que não impediria de ter uma rebelião aqui dentro mesmo?
Como eu havia dito, eles só passam de leve por cima desta situação, como também somente riscam a superfície de outro debate relevante: Homem versus máquina. O que ficou evidente no filme é que a máquina é malvada, enquanto o ciborgue pode ser a salvação da humanidade em uma verdadeira psicologia maniqueísta que somente os norte-americanos conseguem enxergar. Claro que o debate não vai para a frente, afinal, este é um filme de ação.


Me incomoda muito o fato de tanto as pessoas que fazem parte de toda a equipe que compõe o filme e também os fãs da franquia não levarem em consideração que isto é uma obra de fantasia e não de ação. Ação é Jason Statham correndo contra o tempo com uma bomba no coração. Distopia futurística, não. Nas HQ’s existe o debate, existe a fantasia, existe a aventura da descoberta, coisas que aguçam a mente. Vingadores é pura e simplesmente um bom filme de ação, já de fantasia, não. Você desliga o cérebro para assistir a filmes de ação, o que vale é a diversão e por isso, fico preocupada pelo fato da Disney tratar os heróis da Marvel como heróis de ação e somente isso. Seria bom ir ao cinema e ver estratagemas bem estruturados, enigmas carregados, franquias que te fazem pensar de verdade o que vai acontecer agora, e não somente mais de 2 horas de força física e efeitos especiais na tela. Fica a dica para a Disney.


Além disso o filme tem algumas inconsistências difíceis de engolir. Ultron, que deveria ser uma criação de Hank Pym e sua megalomania egocêntrica, é construído por Tony Stark e Bruce Banner. Ok, entendemos a liberdade poética, mas é muito falho o ato de não explicarem como ele surgiu de verdade. Após 3 dias de muitas falhas, Stark e Banner desistem por alguns momentos e vão se divertir numa festa e do nada, justamente quando eles estão fora, voilá! O computador avisa que algo, que também não é explicado, deu certo e mais do nada ainda surge Ultron, todo mal construído (mesmo ele tendo acesso a vários modelos de robôs pacificadores) – que inclusive deveria ser o Ultron verdadeiro de acordo com as HQ’s – aí, ele mesmo vasculha a internet e conclui que os Vingadores são os responsáveis por toda destruição do mundo e resolve “extingui-los”. Até aí tudo bem, mas no meio do filme Ultron decide que só matar os Vingadores não é o suficiente, o que ele quer agora é destruir a humanidade (mas ele não havia julgado os próprios Vingadores como destruidores da humanidade? Fiquei confusa). Clap, clap, clap. Parabéns roteiristas indecisos. Um plano pífio e clichê que eu me senti lendo “Eu, Robô” ou assistindo “O Exterminador do Futuro” e tantos, tantos outros exemplos que eu poderia falar, já que esse tipo de roteiro, da máquina querendo acabar com o seu criador, já foi tantas vezes explorado que a discussão já está, de certa forma, esgotada.


Outras falhas sérias que deveria deixar qualquer fã da Marvel de cabelos arrepiados é o Doutor Bruce Banner. Nos HQ’s, Bruce é atormentado, frustrado consigo mesmo, assombrado. A consequência dele virar o Hulk vem justamente desta mente angustiada. Porém, isso não faz com que ele seja o bichinho de estimação de Tony Stark. Bastaram 3 frases para que Stark convencesse Banner a entrar no projeto com ele, emprestando toda sua sabedoria bio-orgânica, duas vezes! No meu conceito, isso não está correto. 


O fato dos irmãos Maximoff mudarem de ideia também não foi a coisa mais genial de se fazer. Os gêmeos não tiveram a preocupação com o personagem que eles mereciam. Não foram aprofundados em nenhum momento da trama e a historinha de como os seus pais morreram não emocionou ninguém. Eles querem acabar com Tony Stark (mesmo ele não vendendo mais armas) e se juntam a Ultron para acabar com todos os Vingadores? Ah tá, pensei que o propósito era só o Tony, desculpa aí. E então, por causa desse erro, eles acabam proporcionando a cena mais desnecessária de todo o filme, quando por um capricho dela mesma, Wanda mexe com a cabeça de Banner e o Hulk acaba destruindo toda uma cidade na África, gerando assim uma cena de quase 20 minutos que poderia muito bem ter sido cortada. Mas a melhor parte não é essa. A melhor parte é quando Wanda lê a mente de Ultron e percebe que o que ele quer é acabar com o mundo e os dois viram de lado. Mesmo com Ultron falando isso em vários discursos antes dessa cena, a Feiticeira Escarlate demorou para entender o que ele realmente queria, será que ela não estava escutando antes?


Não vou falar aqui do fato do Mercúrio, um mutante incrivelmente interessante. ser extremamente negligenciado e ainda morrer no final do filme, nem vou falar dos poderes totalmente confusos da Feiticeira Escarlate, nem da Viúva Negra que parece estar apaixonada por um Vingador diferente a cada filme, muito menos da solução Deus Ex Machina com a criação do Visão no final do filme (afinal, sem ele, acredita-se que Ultron iria se espalhar mais que as pragas do Egito e a Febre do rato juntas e provavelmente não seria derrotado), nem falarei também da derrocada final de Ultron, que poderia ser mais bem aproveitado em outras ocasiões e do fato dele ter “medo” do Jarvis (oi?). Todos entendemos que são personagens demais para se colocar em cena e aprofundar ao mesmo tempo, mas Peter Jackson já fez isso com maestria (personagens com profundidade que as pessoas realmente se importavam com eles) em 3 filmes do “Senhor dos Anéis”, então, dá sim para fazer, é só querer.


O filme não é ruim. Não, Os Vingadores é um ótimo filme de ação, de deixar nossas cabeças doendo de tanta força física e coisas acontecendo e explodindo ao mesmo tempo na tela, na melhor “Michael Baylização” que os produtores poderiam nos dar. Eu me diverti muito! Entrei na sala, desliguei o cérebro e tive 3 horas de diversão. Porém, a Disney deveria olhar com mais carinho para essas franquias que as pessoas tanto amam e que fazem tanto dinheiro. A ideia não é desligar o cérebro para assistir aos filmes, muito pelo contrário! A ideia é aguçar a mente, criar expectativas e anseios reais e não a espera da próxima cena de luta. Os fãs deveriam cobrar mais dessas produções. Não estou aqui falando de fidelização aos quadrinhos, mas que pelo menos nos dê algo a que nos agarrar, algo para pensarmos, algo para NOS fidelizar, e não um filme que provavelmente será esquecido e engolido pelos próximos. Disney, tenha mais respeito com a Marvel e com seus fãs, deixe os filmes de 90% de somente ação para os outros e volte para a fantasia, que é o que você sabe fazer de melhor.




No mais, não existe absolutamente nenhuma cena que contenha 3D real, é inexistente, e a cena pós-créditos, que só tem uma e é na verdade, no começo dos créditos, é Thanos colocando a Manopla do Infinito (como foi que ele chegou até ela mesmo? Isso será realmente explicado?) e nada de Homem-aranha (sim, aquele vídeo é fake). Estamos todos ansiosos por algo que realmente possa colocar nossas mentes para trabalhar como acredito que é o que vai acontecer em Guerra Civil. Será que dessa vez a Marvel/Disney conseguem? Esperemos.

quarta-feira, 18 de março de 2015

O Dark side do mercado editorial


Em uma recente conversa com o pesquisador, escritor e dramaturgo Adriano Marcena feito em uma sala de aula, alguns alunos perguntaram sobre a obra, o dicionário da diversidade cultural pernambucana, ter sido reconhecida pelo conselho estadual de cultura e como ele analisa esse fato. Marcena, com toda a sua expertise, toca sutilmente em um assunto um tanto quanto complexo, o mercado editorial. Recentemente, Raphael Draccon, autor da trilogia “Dragões de Éter” entre outros e editor da Fantasy, deu uma entrevista em que dizia entre outras coisas que ao enviar algo de sua autoria para publicação, os editores também vêem o lado pessoal do novo autor e assim certos fatores acabam prejudicando a publicação de sua obra. Isso me traz de volta ao Marcena e seu dicionário, não que a vida pessoal do pesquisador o impeça de algo, pelo contrário, Adriano é sempre muito bem relacionado e muito bem humorado, porém, estes “outros fatores” que impedem não só de publicar um livro, mas também de distribui-lo e vende-lo, acredito que seja forte e constante em Pernambuco.
Marcena fala que sua obra é vendida mais em São Paulo do que em seu próprio estado, então, fui tentar provar. Liguei para livrarias, pesquisei na internet e nada. Não achei absolutamente lugar nenhum para comprar o compêndio, tive que apelar para o próprio autor que me deu uma luz. A primeira coisa que me veio à cabeça foi, será que está sendo bem divulgado? Será que não dá dinheiro? Como uma obra tão grandiosa dessas pode passar despercebido desse jeito? A resposta, acredito eu, está na preguiça editorial, na briga “intestinal” que existe em Pernambuco e que Alberto, Publisher de Adriano, cita. Se este livro fosse baiano, já teria teses, entrevistas, festas, seria divulgado e apadrinhado no Brasil inteiro, pois a Bahia é mais bem relacionada, tem mais “compadres” do que aqui.
Eu sou uma aficionada por livros de fantasia e ficção científica e pensei seriamente que se uma obra acadêmica de tamanha importância como é o dicionário tem esses problemas, imagina um autor pernambucano que tenha a petulância de escrever algo do gênero fantasioso por aqui?  É claro, muitos empecilios surgem, como o custo editorial, as editoras precisam saber, ter certeza que a obra vai dar retorno a mais do que o próprio pagamento dela mesma. É simples e fatídico, se não dá retorno, não é publicado. Marcena teve que apelar para Ariano Suassuna para que o governo, O GOVERNO visse sua obra. O governo, o primeiro que deveria ter apoiado, financiado, publicado e distribuído um dicionário que vai ficar para sempre nos anais pernambucanos, mas não. Aparentemente, nem o governo, nem as livrarias estão interessados se o povo lê ou não. 

quarta-feira, 11 de março de 2015

Whiplash e a insubordinação dentro do politicamente correto


Não tão antigamente assim, o bullying já era manjado nas escolas, em todas as escolas. Nem sequer existia essa palavra, eram os valentões, perturbadores contra os nerds, CDF’s. Eu mesma já sofri muito bullying no colégio, assédio moral no trabalho e tô aqui, viva da silva. Para muitas pessoas é traumatizante, claro. Já vi muita gente cometer suicídio por causa de bullying. O que eu me pergunto é, existe um limite?
Whiplash entra nas duas categorias: bullying e assédio moral. Andrew, um estudante baterista de jazz de um dos melhores conservatórios do país, tem o desejo de entrar na melhor banda da escola. Ele consegue realizar esse sonho, mas para cada ação, existe uma reação. Para cada sonho alcançado existe uma consequência. Para se tornar um baterista melhor, o que claro, ele tem a consciência de que com esse professor ele vai conseguir, ele precisa aguentar o temperamento de Terence Fletcher.
Já tive oportunidade de encontrar “patrões” iguais a este exímio professor. Fletcher passa dos limites, xinga seus alunos com força e convicção, bate neles, os diminui rebaixando suas famílias e entes queridos, mas com um propósito: impulsionar estes estudantes para que se tornem melhores. Fletcher segue uma lógica maquiavélica que é, no mínimo, bastante entendível. Em um de seus discursos no filme, ele diz que Charlie Parker nunca teria se tornado o “Bird” se seu amigo não tivesse jogado um instrumento nele porque ele não estava fazendo certo, no seu ritmo. Fletcher diz que a frase “bom trabalho” é a pior que existe na face da terra. Eu acho que ele está certo.
Dizer “Bom trabalho”, quer dizer que você está dizendo que a pessoa está fazendo certo, mesmo sem ela estar. Esta pessoa vai se acomodar e se acostumar a fazer um trabalho pobre, a não estudar mais, a não dar o melhor de si, afinal, todos estão dizendo que ela está fazendo um “bom trabalho”. Porém, Fletcher também está errado. Com esse comportamento visceral ele nunca teve, nem nunca terá o seu próprio Charlie Parker.
Diminuir e humilhar uma pessoa só a diminui e a humilha. Nada mais. Ela não vai ficar com raiva e ser forte e sair do fundo do poço para se tornar um profissional e/ou estudante melhor. Essas historinhas de superação não existem mais na vida real. Na era do politicamente correto em que estamos, qualquer chamada de atenção, qualquer “comida de rabo” é um caso de assédio moral, de bullying. Geralmente quando isso acontece a pessoa que sofre escolhe entre duas opções: ou processa ou fica choramingando pelos cantos, depressiva. Acreditem, esta é a sociedade em que vivemos, uma maravilha do mundo moderno.
Fletcher pode estar certo em querer impulsionar seus alunos a serem melhores, a não ser obrigado a dizer “bom trabalho”, mas está errado em passar do limite do suportável. O filme não mostra uma História da superação de Andrew Neiman. Ele mostra a vingança de Andrew Neiman. O que Fletcher merecia não era ser superado e sim vingado. É isso o que o filme nos entrega, como, através da vingança, Andrew Neiman vira o Charlie Parker de Terence Fletcher. O filme é nota 10. Em termos de construção de História, construção de personagens e a típica jornada do herói bem retratada, melhor filme do ano disparado.

Não adianta bater, xingar, diminuir, humilhar. Como também não adianta dizer “bom trabalho”. Sendo elogios ou críticas, precisam ser ditas de maneira forte, com convicção. Tudo deve ser dito construtivamente, para que a pessoa não erre mais, para que ela queira e ela mesma se impulsione a virar uma pessoa/profissional melhor. Respondendo assim, a pergunta: existe sim um limite, mas esse limite é uma linha muito tênue entre a humilhação e a resignação. Qual dos dois você escolhe?

Birdman ou a esperada virtude da ignorância artística


A plateia grita, levanta-se aplaudindo, os artistas agradecem e a cortina fecha. A partir dali, “Fulano” se transforma. Não dá boa noite a ninguém, não agradece às pessoas que fizeram aquele espetáculo possível, não vai para a frente do teatro dar autógrafos aos ávidos fãs que ali esperam, ou no mínimo, uma palavra de carinho, um “muito obrigado”. Já é esperado. Ele é artista! Eles são assim mesmo. Liga não.
Birdman explicita as agruras e paranoias de um artista esquecido. Michael Keaton dá a vida à Riggan Thomson, um ator amargurado por ter feito 3 filmes de super-herói na década de 90 e depois o ostracismo. Iñarritu passa para as telas a vida de muitos, mas que a mídia não deixa morrer. Ao fazer isso, o artista se sobrecarrega da importância que na verdade, ele não tem. Isso geralmente acontece com os sem talento, temos inúmeros exemplos que estão vivendo por aí como sub-celebridades, ganhando com apenas um trabalho pobre e parco. É básico que se você é realmente talentoso, você prospera, mas quando não é, apenas a sorte e o acaso podem salvar suas peles da vida luxuosa ao qual se acostumam logo cedo. Riggan vive atormentado pelo personagem a quem deu vida no passado, Birdman, ou o seu alter-ego, seu espelho reverso, a sua consciência não mascarada que mostra o que ele realmente deseja.
O que nos leva para a primeira questão. Riggan está basicamente esquecido, falido, ferido internamente, porém, a arrogância de querer voltar a mídia, de roteirizar e dirigir seu próprio espetáculo, de demitir e contratar quem ele quiser ainda está lá, como se ele estivesse em seu auge, somente na sua cabeça. Esta arrogância que a mídia preza, fazendo do artista uma pessoa inatingível, inalcançável, intocável. Você não pode trocar uma ideia com esse tipo de artista, não pode sequer tocá-lo. Como se ele fosse uma estátua de diamante inabalável que nunca pode receber o toque de mãos sujas e pobres como a nossa.
Avril Lavigne, Justin Bieber, qualquer ator hollywoodiano. O que se passa em suas cabeças em não agradecer, em não se deixar tocar, em viver uma vida feita de bajulações mentirosas? Claro que existem as exceções, poucas, mas existem. O problema é que a grande maioria faz parte da regra. Me pergunto se eles realmente têm esse dilema na cabeça, os mesmos problemas esquizofrênicos de Riggan ou se é tudo um teatro de fantoches arquitetado pela mídia.

No meio de todo esse fuzuê artístico emocional, Riggan consegue a glória do público por meios não convencionais, afinal, ele precisava compensar a falta de talento. Vira um viral, atira no próprio rosto e finalmente é aclamado pela crítica. Porém, ainda ficam duas perguntas sem resposta que provavelmente jamais serão respondidas (por mais que você estude): Quem faz do artista este ser milionário, inatingível e tortuoso é a mídia improdutiva, bajuladora e corruptiva de valores? Ou são os fãs/consumidores com sua histeria coletiva e falta de afeto humano que se aprofunda e afunda mais e mais a cada geração? Em tempo, a segunda questão, porém, não menos confusa: Tudo é arte?

Vanessa e Daniele: Duas facetas da mesma moeda

Vanessa nasceu de uma família pobre, seu pai abandonou a família logo cedo, sua mãe é doméstica. Daniele nasceu classe média, seu pai é médico, sua mãe, cientista social. Vanessa sempre estudou em escolas públicas. Daniele somente na melhor escola de sua cidade, pelo menos até os 15 anos. Vanessa sempre sofreu bullying porque era a gordinha, baixinha e nerd da escola. Daniele, a mais popular e namoradeira, não curtia muito estudar. Aos 13 anos, Daniele foi “descoberta” por um olheiro e logo, com a ajuda financeira de seus pais começou um curso para modelos. Quando Vanessa, com muito esforço de sua parte, afinal, ela não tinha dinheiro para pagar um cursinho, passou no vestibular para Licenciatura em Biologia, Daniele ganhava seu primeiro milhão, em dólares. Já era famosa mundialmente, estampava capas de revista e modelava para todos os estilistas conhecidos.
Vanessa será sempre professora. Talvez um dia ela consiga passar em um concurso para lecionar na Universidade e ganhar um pouquinho mais. Daniele parou de estudar aos 15 anos e a cada ano fica mais milionária. Vanessa e Daniele: qual o limite da auto-consciência? Qual o limite do capitalismo? Para que serve a moda? Porque Vanessa nunca vai ganhar o que Daniele ganha? Por causa de seu rosto, de seu corpo. Essa é a resposta que todos sabem, mas tem medo de falar em voz alta. Alguns dirão que é sorte, outros, discriminação, muitos colocarão a culpa no PT. O importante, talvez, seja adquirir uma consciência do seu eu, do ser, saber distinguir o certo do errado, a injustiça da justiça. Que se dane! Estas são as consequências do capitalismo, aquele mesmo que você aceitou para poder comprar um Iphone. Alguns dirão que esse texto é uma ode ao socialismo, ao comunismo, ao Spaguetti voador mutante!
Talvez, talvez, este texto sirva a um único propósito: Gerar consciência do que é realmente mais importante para a vida. Professores ou a cor da próxima estação? Pode ser que esse texto seja tudo mentira ou todo verdade, um texto que não importa ou um texto de suma importância para a sociedade e bla bla bla. Não se subestime caro leitor, quem importa aqui de verdade é você e não esse texto. A mente é sua e você pode adquirir consciência quando quiser, fique à vontade. 

terça-feira, 24 de julho de 2012

Que a Força Esteja com Vocês



Li um texto de um nerd escrito para não-nerds (http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/4_ZECA+BALEIRO), por isso pensei em escrever um texto de nerd para nerd. Face to face. Sim, o nerd virou pop, ser nerd é ter um status na sociedade, afinal, com a inauguração da web 2.0 nós mostramos nossa cara, partilhamos nossas teorias, criamos comunidades. Espalha-se por aí que o nerd de hoje é o milionário de amanhã. Eu não compartilho dessa ideia. Eu acho que o nerd de hoje é a cara da nova sociedade que está por vir. É a sociedade 2.0.
Há quem se ofenda quando são chamados de “nerds”, infelizmente, ainda existe muito preconceito. Veja bem, não é o conjunto da obra que te faz um nerd, vc pode ser um sem nunca ter jogado uma partida de RPG na vida. Você pode ter assistido a todos os Star Trek e Star Wars e não ser um nerd. Nerd é o cara (ou a menina) curioso, que sempre está em busca de mais informação. Somos uma classe consumista ao extremo, mas o nosso consumo é de sabedoria e possibilidades. 

Como no Metal, as pessoas tendem a usar o separatismo para esclarecer e formar nichos, com vocês intelectuais, isso não é diferente. “Eu não sou nerd, sou geek”, ok, tá beleza. Você gosta de tecnologia e games, mas nunca leu Isaac Asimov? Então, você não é nenhum dos dois, caro amigo. Existem um milhão de outras culturas: os fandons, otakus, fanboys, etc. Mas se você não se aprofunda naquilo que gosta, se não tem a curiosidade de saber cada vez mais, então você não pode se considerar um nerd.
O nerd ele faz a diferença. Ele não vai à Campus Party somente para passar o dia sem tomar banho e jogar vídeo-game. O nerd assiste às palestras, por mais tímido que seja, conhece pessoas, se enturma, mesmo que seja por DM. O nerd é a nova sociedade, a sociedade do amanhã, isso não quer dizer que ele não seja um milionário amanhã, mas quem sabe todos nós não seremos? Com a economia em alta, novos e futuros empresários crescem cada dia mais. A tecnologia está ao nosso favor, a mesma criada por... nerds.
Não é de se admirar que sim, temos toda a pretensão de dominar o mundo, mas eu acredito que já o fizemos. O mainstream paralelo da internet está aí para provar, criamos uma realidade alternativa e fizemos ela acontecer. Não estamos mais sós, no nosso mundinho, como diziam nossos pais. Nós estampamos “nosso mundinho” na cara da sociedade e com orgulho atraímos outros seres para viver nele. Ainda mesclamos as 2 realidades, mas chegará o dia em que uma sobreporá entre a outra e qual delas vencerá? 

Nerd, tenha consciência do que você tem em mãos, então mostre seu mundinho para todos, molde-o do jeito que você quiser, seja curioso, participe, aprenda e se liberte das amarras do universo pseudo-intelectualóide que nos rodeia. Você não é superior a ninguém, mas pode sempre superar a si mesmo. Asimov estava certo, lembre-se que para gritar “BAZINGA” você primeiro tem que ganhar.
Vida longa e próspera a todos os nerds.




Se você quer acompanhar a Campus Party Recife sob o meu ponto de vista maluco, então fica ligado aqui no meu blog que a doideira vai bombar! Conheça um pouco mais sobre os criadores do site Jovem Nerd, estrelando Alexandre Ottoni e Azaghâl, aproveite todas as possibilidades midiáticas que existem na web 2.0, saiba como arrumar um namorado na Campus Party e aprenda como fazer uma reportagem com uma câmera de 10 Megapixels.

 CCC a todos e nos vemos na Campus Party!