quarta-feira, 18 de março de 2015

O Dark side do mercado editorial


Em uma recente conversa com o pesquisador, escritor e dramaturgo Adriano Marcena feito em uma sala de aula, alguns alunos perguntaram sobre a obra, o dicionário da diversidade cultural pernambucana, ter sido reconhecida pelo conselho estadual de cultura e como ele analisa esse fato. Marcena, com toda a sua expertise, toca sutilmente em um assunto um tanto quanto complexo, o mercado editorial. Recentemente, Raphael Draccon, autor da trilogia “Dragões de Éter” entre outros e editor da Fantasy, deu uma entrevista em que dizia entre outras coisas que ao enviar algo de sua autoria para publicação, os editores também vêem o lado pessoal do novo autor e assim certos fatores acabam prejudicando a publicação de sua obra. Isso me traz de volta ao Marcena e seu dicionário, não que a vida pessoal do pesquisador o impeça de algo, pelo contrário, Adriano é sempre muito bem relacionado e muito bem humorado, porém, estes “outros fatores” que impedem não só de publicar um livro, mas também de distribui-lo e vende-lo, acredito que seja forte e constante em Pernambuco.
Marcena fala que sua obra é vendida mais em São Paulo do que em seu próprio estado, então, fui tentar provar. Liguei para livrarias, pesquisei na internet e nada. Não achei absolutamente lugar nenhum para comprar o compêndio, tive que apelar para o próprio autor que me deu uma luz. A primeira coisa que me veio à cabeça foi, será que está sendo bem divulgado? Será que não dá dinheiro? Como uma obra tão grandiosa dessas pode passar despercebido desse jeito? A resposta, acredito eu, está na preguiça editorial, na briga “intestinal” que existe em Pernambuco e que Alberto, Publisher de Adriano, cita. Se este livro fosse baiano, já teria teses, entrevistas, festas, seria divulgado e apadrinhado no Brasil inteiro, pois a Bahia é mais bem relacionada, tem mais “compadres” do que aqui.
Eu sou uma aficionada por livros de fantasia e ficção científica e pensei seriamente que se uma obra acadêmica de tamanha importância como é o dicionário tem esses problemas, imagina um autor pernambucano que tenha a petulância de escrever algo do gênero fantasioso por aqui?  É claro, muitos empecilios surgem, como o custo editorial, as editoras precisam saber, ter certeza que a obra vai dar retorno a mais do que o próprio pagamento dela mesma. É simples e fatídico, se não dá retorno, não é publicado. Marcena teve que apelar para Ariano Suassuna para que o governo, O GOVERNO visse sua obra. O governo, o primeiro que deveria ter apoiado, financiado, publicado e distribuído um dicionário que vai ficar para sempre nos anais pernambucanos, mas não. Aparentemente, nem o governo, nem as livrarias estão interessados se o povo lê ou não. 

quarta-feira, 11 de março de 2015

Whiplash e a insubordinação dentro do politicamente correto


Não tão antigamente assim, o bullying já era manjado nas escolas, em todas as escolas. Nem sequer existia essa palavra, eram os valentões, perturbadores contra os nerds, CDF’s. Eu mesma já sofri muito bullying no colégio, assédio moral no trabalho e tô aqui, viva da silva. Para muitas pessoas é traumatizante, claro. Já vi muita gente cometer suicídio por causa de bullying. O que eu me pergunto é, existe um limite?
Whiplash entra nas duas categorias: bullying e assédio moral. Andrew, um estudante baterista de jazz de um dos melhores conservatórios do país, tem o desejo de entrar na melhor banda da escola. Ele consegue realizar esse sonho, mas para cada ação, existe uma reação. Para cada sonho alcançado existe uma consequência. Para se tornar um baterista melhor, o que claro, ele tem a consciência de que com esse professor ele vai conseguir, ele precisa aguentar o temperamento de Terence Fletcher.
Já tive oportunidade de encontrar “patrões” iguais a este exímio professor. Fletcher passa dos limites, xinga seus alunos com força e convicção, bate neles, os diminui rebaixando suas famílias e entes queridos, mas com um propósito: impulsionar estes estudantes para que se tornem melhores. Fletcher segue uma lógica maquiavélica que é, no mínimo, bastante entendível. Em um de seus discursos no filme, ele diz que Charlie Parker nunca teria se tornado o “Bird” se seu amigo não tivesse jogado um instrumento nele porque ele não estava fazendo certo, no seu ritmo. Fletcher diz que a frase “bom trabalho” é a pior que existe na face da terra. Eu acho que ele está certo.
Dizer “Bom trabalho”, quer dizer que você está dizendo que a pessoa está fazendo certo, mesmo sem ela estar. Esta pessoa vai se acomodar e se acostumar a fazer um trabalho pobre, a não estudar mais, a não dar o melhor de si, afinal, todos estão dizendo que ela está fazendo um “bom trabalho”. Porém, Fletcher também está errado. Com esse comportamento visceral ele nunca teve, nem nunca terá o seu próprio Charlie Parker.
Diminuir e humilhar uma pessoa só a diminui e a humilha. Nada mais. Ela não vai ficar com raiva e ser forte e sair do fundo do poço para se tornar um profissional e/ou estudante melhor. Essas historinhas de superação não existem mais na vida real. Na era do politicamente correto em que estamos, qualquer chamada de atenção, qualquer “comida de rabo” é um caso de assédio moral, de bullying. Geralmente quando isso acontece a pessoa que sofre escolhe entre duas opções: ou processa ou fica choramingando pelos cantos, depressiva. Acreditem, esta é a sociedade em que vivemos, uma maravilha do mundo moderno.
Fletcher pode estar certo em querer impulsionar seus alunos a serem melhores, a não ser obrigado a dizer “bom trabalho”, mas está errado em passar do limite do suportável. O filme não mostra uma História da superação de Andrew Neiman. Ele mostra a vingança de Andrew Neiman. O que Fletcher merecia não era ser superado e sim vingado. É isso o que o filme nos entrega, como, através da vingança, Andrew Neiman vira o Charlie Parker de Terence Fletcher. O filme é nota 10. Em termos de construção de História, construção de personagens e a típica jornada do herói bem retratada, melhor filme do ano disparado.

Não adianta bater, xingar, diminuir, humilhar. Como também não adianta dizer “bom trabalho”. Sendo elogios ou críticas, precisam ser ditas de maneira forte, com convicção. Tudo deve ser dito construtivamente, para que a pessoa não erre mais, para que ela queira e ela mesma se impulsione a virar uma pessoa/profissional melhor. Respondendo assim, a pergunta: existe sim um limite, mas esse limite é uma linha muito tênue entre a humilhação e a resignação. Qual dos dois você escolhe?

Birdman ou a esperada virtude da ignorância artística


A plateia grita, levanta-se aplaudindo, os artistas agradecem e a cortina fecha. A partir dali, “Fulano” se transforma. Não dá boa noite a ninguém, não agradece às pessoas que fizeram aquele espetáculo possível, não vai para a frente do teatro dar autógrafos aos ávidos fãs que ali esperam, ou no mínimo, uma palavra de carinho, um “muito obrigado”. Já é esperado. Ele é artista! Eles são assim mesmo. Liga não.
Birdman explicita as agruras e paranoias de um artista esquecido. Michael Keaton dá a vida à Riggan Thomson, um ator amargurado por ter feito 3 filmes de super-herói na década de 90 e depois o ostracismo. Iñarritu passa para as telas a vida de muitos, mas que a mídia não deixa morrer. Ao fazer isso, o artista se sobrecarrega da importância que na verdade, ele não tem. Isso geralmente acontece com os sem talento, temos inúmeros exemplos que estão vivendo por aí como sub-celebridades, ganhando com apenas um trabalho pobre e parco. É básico que se você é realmente talentoso, você prospera, mas quando não é, apenas a sorte e o acaso podem salvar suas peles da vida luxuosa ao qual se acostumam logo cedo. Riggan vive atormentado pelo personagem a quem deu vida no passado, Birdman, ou o seu alter-ego, seu espelho reverso, a sua consciência não mascarada que mostra o que ele realmente deseja.
O que nos leva para a primeira questão. Riggan está basicamente esquecido, falido, ferido internamente, porém, a arrogância de querer voltar a mídia, de roteirizar e dirigir seu próprio espetáculo, de demitir e contratar quem ele quiser ainda está lá, como se ele estivesse em seu auge, somente na sua cabeça. Esta arrogância que a mídia preza, fazendo do artista uma pessoa inatingível, inalcançável, intocável. Você não pode trocar uma ideia com esse tipo de artista, não pode sequer tocá-lo. Como se ele fosse uma estátua de diamante inabalável que nunca pode receber o toque de mãos sujas e pobres como a nossa.
Avril Lavigne, Justin Bieber, qualquer ator hollywoodiano. O que se passa em suas cabeças em não agradecer, em não se deixar tocar, em viver uma vida feita de bajulações mentirosas? Claro que existem as exceções, poucas, mas existem. O problema é que a grande maioria faz parte da regra. Me pergunto se eles realmente têm esse dilema na cabeça, os mesmos problemas esquizofrênicos de Riggan ou se é tudo um teatro de fantoches arquitetado pela mídia.

No meio de todo esse fuzuê artístico emocional, Riggan consegue a glória do público por meios não convencionais, afinal, ele precisava compensar a falta de talento. Vira um viral, atira no próprio rosto e finalmente é aclamado pela crítica. Porém, ainda ficam duas perguntas sem resposta que provavelmente jamais serão respondidas (por mais que você estude): Quem faz do artista este ser milionário, inatingível e tortuoso é a mídia improdutiva, bajuladora e corruptiva de valores? Ou são os fãs/consumidores com sua histeria coletiva e falta de afeto humano que se aprofunda e afunda mais e mais a cada geração? Em tempo, a segunda questão, porém, não menos confusa: Tudo é arte?

Vanessa e Daniele: Duas facetas da mesma moeda

Vanessa nasceu de uma família pobre, seu pai abandonou a família logo cedo, sua mãe é doméstica. Daniele nasceu classe média, seu pai é médico, sua mãe, cientista social. Vanessa sempre estudou em escolas públicas. Daniele somente na melhor escola de sua cidade, pelo menos até os 15 anos. Vanessa sempre sofreu bullying porque era a gordinha, baixinha e nerd da escola. Daniele, a mais popular e namoradeira, não curtia muito estudar. Aos 13 anos, Daniele foi “descoberta” por um olheiro e logo, com a ajuda financeira de seus pais começou um curso para modelos. Quando Vanessa, com muito esforço de sua parte, afinal, ela não tinha dinheiro para pagar um cursinho, passou no vestibular para Licenciatura em Biologia, Daniele ganhava seu primeiro milhão, em dólares. Já era famosa mundialmente, estampava capas de revista e modelava para todos os estilistas conhecidos.
Vanessa será sempre professora. Talvez um dia ela consiga passar em um concurso para lecionar na Universidade e ganhar um pouquinho mais. Daniele parou de estudar aos 15 anos e a cada ano fica mais milionária. Vanessa e Daniele: qual o limite da auto-consciência? Qual o limite do capitalismo? Para que serve a moda? Porque Vanessa nunca vai ganhar o que Daniele ganha? Por causa de seu rosto, de seu corpo. Essa é a resposta que todos sabem, mas tem medo de falar em voz alta. Alguns dirão que é sorte, outros, discriminação, muitos colocarão a culpa no PT. O importante, talvez, seja adquirir uma consciência do seu eu, do ser, saber distinguir o certo do errado, a injustiça da justiça. Que se dane! Estas são as consequências do capitalismo, aquele mesmo que você aceitou para poder comprar um Iphone. Alguns dirão que esse texto é uma ode ao socialismo, ao comunismo, ao Spaguetti voador mutante!
Talvez, talvez, este texto sirva a um único propósito: Gerar consciência do que é realmente mais importante para a vida. Professores ou a cor da próxima estação? Pode ser que esse texto seja tudo mentira ou todo verdade, um texto que não importa ou um texto de suma importância para a sociedade e bla bla bla. Não se subestime caro leitor, quem importa aqui de verdade é você e não esse texto. A mente é sua e você pode adquirir consciência quando quiser, fique à vontade.