quarta-feira, 11 de março de 2015

Birdman ou a esperada virtude da ignorância artística


A plateia grita, levanta-se aplaudindo, os artistas agradecem e a cortina fecha. A partir dali, “Fulano” se transforma. Não dá boa noite a ninguém, não agradece às pessoas que fizeram aquele espetáculo possível, não vai para a frente do teatro dar autógrafos aos ávidos fãs que ali esperam, ou no mínimo, uma palavra de carinho, um “muito obrigado”. Já é esperado. Ele é artista! Eles são assim mesmo. Liga não.
Birdman explicita as agruras e paranoias de um artista esquecido. Michael Keaton dá a vida à Riggan Thomson, um ator amargurado por ter feito 3 filmes de super-herói na década de 90 e depois o ostracismo. Iñarritu passa para as telas a vida de muitos, mas que a mídia não deixa morrer. Ao fazer isso, o artista se sobrecarrega da importância que na verdade, ele não tem. Isso geralmente acontece com os sem talento, temos inúmeros exemplos que estão vivendo por aí como sub-celebridades, ganhando com apenas um trabalho pobre e parco. É básico que se você é realmente talentoso, você prospera, mas quando não é, apenas a sorte e o acaso podem salvar suas peles da vida luxuosa ao qual se acostumam logo cedo. Riggan vive atormentado pelo personagem a quem deu vida no passado, Birdman, ou o seu alter-ego, seu espelho reverso, a sua consciência não mascarada que mostra o que ele realmente deseja.
O que nos leva para a primeira questão. Riggan está basicamente esquecido, falido, ferido internamente, porém, a arrogância de querer voltar a mídia, de roteirizar e dirigir seu próprio espetáculo, de demitir e contratar quem ele quiser ainda está lá, como se ele estivesse em seu auge, somente na sua cabeça. Esta arrogância que a mídia preza, fazendo do artista uma pessoa inatingível, inalcançável, intocável. Você não pode trocar uma ideia com esse tipo de artista, não pode sequer tocá-lo. Como se ele fosse uma estátua de diamante inabalável que nunca pode receber o toque de mãos sujas e pobres como a nossa.
Avril Lavigne, Justin Bieber, qualquer ator hollywoodiano. O que se passa em suas cabeças em não agradecer, em não se deixar tocar, em viver uma vida feita de bajulações mentirosas? Claro que existem as exceções, poucas, mas existem. O problema é que a grande maioria faz parte da regra. Me pergunto se eles realmente têm esse dilema na cabeça, os mesmos problemas esquizofrênicos de Riggan ou se é tudo um teatro de fantoches arquitetado pela mídia.

No meio de todo esse fuzuê artístico emocional, Riggan consegue a glória do público por meios não convencionais, afinal, ele precisava compensar a falta de talento. Vira um viral, atira no próprio rosto e finalmente é aclamado pela crítica. Porém, ainda ficam duas perguntas sem resposta que provavelmente jamais serão respondidas (por mais que você estude): Quem faz do artista este ser milionário, inatingível e tortuoso é a mídia improdutiva, bajuladora e corruptiva de valores? Ou são os fãs/consumidores com sua histeria coletiva e falta de afeto humano que se aprofunda e afunda mais e mais a cada geração? Em tempo, a segunda questão, porém, não menos confusa: Tudo é arte?

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