A plateia grita,
levanta-se aplaudindo, os artistas agradecem e a cortina fecha. A partir dali, “Fulano”
se transforma. Não dá boa noite a ninguém, não agradece às pessoas que fizeram
aquele espetáculo possível, não vai para a frente do teatro dar autógrafos aos
ávidos fãs que ali esperam, ou no mínimo, uma palavra de carinho, um “muito
obrigado”. Já é esperado. Ele é artista! Eles são assim mesmo. Liga não.
Birdman
explicita as agruras e paranoias de um artista esquecido. Michael Keaton dá a
vida à Riggan Thomson, um ator
amargurado por ter feito 3 filmes de super-herói na década de 90 e depois o
ostracismo. Iñarritu passa para as telas a vida de muitos, mas que a mídia não
deixa morrer. Ao fazer isso, o artista se sobrecarrega da importância que na
verdade, ele não tem. Isso geralmente acontece com os sem talento, temos
inúmeros exemplos que estão vivendo por aí como sub-celebridades, ganhando com
apenas um trabalho pobre e parco. É básico que se você é realmente talentoso,
você prospera, mas quando não é, apenas a sorte e o acaso podem salvar suas
peles da vida luxuosa ao qual se acostumam logo cedo. Riggan vive atormentado
pelo personagem a quem deu vida no passado, Birdman, ou o seu alter-ego, seu
espelho reverso, a sua consciência não mascarada que mostra o que ele realmente
deseja.
O que nos leva para a primeira questão. Riggan está
basicamente esquecido, falido, ferido internamente, porém, a arrogância de
querer voltar a mídia, de roteirizar e dirigir seu próprio espetáculo, de
demitir e contratar quem ele quiser ainda está lá, como se ele estivesse em seu
auge, somente na sua cabeça. Esta arrogância que a mídia preza, fazendo do
artista uma pessoa inatingível, inalcançável, intocável. Você não pode trocar
uma ideia com esse tipo de artista, não pode sequer tocá-lo. Como se ele fosse
uma estátua de diamante inabalável que nunca pode receber o toque de mãos sujas
e pobres como a nossa.
Avril Lavigne, Justin Bieber, qualquer ator
hollywoodiano. O que se passa em suas cabeças em não agradecer, em não se
deixar tocar, em viver uma vida feita de bajulações mentirosas? Claro que
existem as exceções, poucas, mas existem. O problema é que a grande maioria faz
parte da regra. Me pergunto se eles realmente têm esse dilema na cabeça, os
mesmos problemas esquizofrênicos de Riggan ou se é tudo um teatro de fantoches
arquitetado pela mídia.
No meio de todo esse fuzuê artístico emocional, Riggan
consegue a glória do público por meios não convencionais, afinal, ele precisava
compensar a falta de talento. Vira um viral, atira no próprio rosto e
finalmente é aclamado pela crítica. Porém, ainda ficam duas perguntas sem
resposta que provavelmente jamais serão respondidas (por mais que você estude):
Quem faz do artista este ser milionário, inatingível e tortuoso é a mídia improdutiva,
bajuladora e corruptiva de valores? Ou são os fãs/consumidores com sua histeria
coletiva e falta de afeto humano que se aprofunda e afunda mais e mais a cada
geração? Em tempo, a segunda questão, porém, não menos confusa: Tudo é arte?
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