quarta-feira, 11 de março de 2015

Whiplash e a insubordinação dentro do politicamente correto


Não tão antigamente assim, o bullying já era manjado nas escolas, em todas as escolas. Nem sequer existia essa palavra, eram os valentões, perturbadores contra os nerds, CDF’s. Eu mesma já sofri muito bullying no colégio, assédio moral no trabalho e tô aqui, viva da silva. Para muitas pessoas é traumatizante, claro. Já vi muita gente cometer suicídio por causa de bullying. O que eu me pergunto é, existe um limite?
Whiplash entra nas duas categorias: bullying e assédio moral. Andrew, um estudante baterista de jazz de um dos melhores conservatórios do país, tem o desejo de entrar na melhor banda da escola. Ele consegue realizar esse sonho, mas para cada ação, existe uma reação. Para cada sonho alcançado existe uma consequência. Para se tornar um baterista melhor, o que claro, ele tem a consciência de que com esse professor ele vai conseguir, ele precisa aguentar o temperamento de Terence Fletcher.
Já tive oportunidade de encontrar “patrões” iguais a este exímio professor. Fletcher passa dos limites, xinga seus alunos com força e convicção, bate neles, os diminui rebaixando suas famílias e entes queridos, mas com um propósito: impulsionar estes estudantes para que se tornem melhores. Fletcher segue uma lógica maquiavélica que é, no mínimo, bastante entendível. Em um de seus discursos no filme, ele diz que Charlie Parker nunca teria se tornado o “Bird” se seu amigo não tivesse jogado um instrumento nele porque ele não estava fazendo certo, no seu ritmo. Fletcher diz que a frase “bom trabalho” é a pior que existe na face da terra. Eu acho que ele está certo.
Dizer “Bom trabalho”, quer dizer que você está dizendo que a pessoa está fazendo certo, mesmo sem ela estar. Esta pessoa vai se acomodar e se acostumar a fazer um trabalho pobre, a não estudar mais, a não dar o melhor de si, afinal, todos estão dizendo que ela está fazendo um “bom trabalho”. Porém, Fletcher também está errado. Com esse comportamento visceral ele nunca teve, nem nunca terá o seu próprio Charlie Parker.
Diminuir e humilhar uma pessoa só a diminui e a humilha. Nada mais. Ela não vai ficar com raiva e ser forte e sair do fundo do poço para se tornar um profissional e/ou estudante melhor. Essas historinhas de superação não existem mais na vida real. Na era do politicamente correto em que estamos, qualquer chamada de atenção, qualquer “comida de rabo” é um caso de assédio moral, de bullying. Geralmente quando isso acontece a pessoa que sofre escolhe entre duas opções: ou processa ou fica choramingando pelos cantos, depressiva. Acreditem, esta é a sociedade em que vivemos, uma maravilha do mundo moderno.
Fletcher pode estar certo em querer impulsionar seus alunos a serem melhores, a não ser obrigado a dizer “bom trabalho”, mas está errado em passar do limite do suportável. O filme não mostra uma História da superação de Andrew Neiman. Ele mostra a vingança de Andrew Neiman. O que Fletcher merecia não era ser superado e sim vingado. É isso o que o filme nos entrega, como, através da vingança, Andrew Neiman vira o Charlie Parker de Terence Fletcher. O filme é nota 10. Em termos de construção de História, construção de personagens e a típica jornada do herói bem retratada, melhor filme do ano disparado.

Não adianta bater, xingar, diminuir, humilhar. Como também não adianta dizer “bom trabalho”. Sendo elogios ou críticas, precisam ser ditas de maneira forte, com convicção. Tudo deve ser dito construtivamente, para que a pessoa não erre mais, para que ela queira e ela mesma se impulsione a virar uma pessoa/profissional melhor. Respondendo assim, a pergunta: existe sim um limite, mas esse limite é uma linha muito tênue entre a humilhação e a resignação. Qual dos dois você escolhe?

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